Feito para durar (O Homem de Ferro)

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Após muito tempo engavetado, O Homem de Ferro finalmente surge às telas de cinema com status de blockbuster e expectativas a mil. Mas será mesmo que todos esperavam por um filme com um roteiro inteligente e atuações inspiradas, ou simplesmente uma fita de ação com inúmeros momentos recheados de efeitos especiais e lutas coreografadas? Muito provável que a resposta seja a segunda alternativa. Felizmente, a resposta dada por Jon Favreau irá satisfazer não somente aqueles que esperam por um bom blockbuster, mas também aqueles que esperam por um bom filme.

À essa altura, todos já devem saber sobre o que se trata a produção: um jovem executivo dono de uma empresa que fabrica e revende armas não está muito interessado em saber de responsabilidades. Adora festas, bebidas e de se divertir com jornalistas e aeromoças. Para promover uma de suas novas invenções, Tony Stark viaja para o Afeganistão e lá sofre um acidente que muda a sua vida. Após ser resgatado por um cientista e ser feito refém, Stark percebe a potência de suas armas e decide inventar algo que neutralize o poder de suas criações bélicas. Assim surge o traje que dá nome ao filme, forte o suficiente para tirá-lo do cativeiro e assim voltar aos EUA. Com o seu retorno, seus novos ideais entram em conflito com a política da empresa e é a partir daí que reside a graça do filme.

Robert Downey Jr. sela a sua volta por cima em mais uma ótima interpretação. É muito interessante ver como o ator, que possui muitos tiques e uma atuação bastante afetada, consegue criar um dinamismo maior para cada personagem que personifica. Ele sabe que tirar esses tiques nãos erá fácil, então ele decidiu incorporá-los aos personagens. Dessa forma, todos acabam possuindo uma assinatura, uma marca registrada da forma Robert Downey Jr. de se trabalhar. Foi assim em A Pele, foi assim em Zodíaco, foi assim em O Homem Duplo e em outros longas que o ator participou. Um ator que consegue usar as suas limitações a seu favor, criando um diferencial. Um grande ator que está, finalmente e definitivamente, de volta à ativa. Não resta muito aos outros atores que acabam sendo engolidos por Downey quando contracenam com ele: Terrence Howard e Gwyneth Paltrow acionam um piloto automático, e somente um irreconhecível Jeff Bridges que resolve se destacar enquanto Downey não entra em cena.

É claro que tudo não é exatamente perfeito: o acidente que mudaria a vida de Stark ocorre muito rapidamente, quase que imediato demais; a descoberta de Obadiah Stane sobre a verdadeira fonte de energia da roupa de Stark é entendida pelo espectador somente nas entrelinhas; e a cena em que o protagonista testa os poderes de seu uniforme numa sala cheia de carros da última geração é muito estranha para ser entendida.

Entretanto, não são por esses defeitos que O Homem de Ferro será lembrado. O filme é o entretenimento que é graças ao talento de Downey Jr. ao assumir um papel praticamente autobiográfico, às habilidades de Favreau que recebe uma óbvia influência de Robert Altman e seus diálogos, e à ótima trilha de Ramin Djawadi que compôs todas as suas trilhas com uma guitarra, para só depois rearranjá-las para a orquestra tocar. Com todos esses artistas em seus melhores momentos, um anúncio deve ser feito para os produtores para as inevitáveis continuações: em time que se está ganhando não se mexe. Principalmente, em um time tão talentoso e revelador quanto esse.

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